O "SALON". A permanência de termos franceses denuncia bem a presença de um certo modo europeu [...]
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O "SALON". A permanência de termos franceses denuncia bem a presença de um certo modo europeu [...]
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O "SALON". A permanência de termos franceses denuncia bem a presença de um certo modo europeu [...]
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O "SALON". A permanência de termos franceses denuncia bem a presença de um certo modo europeu nos arraiais da cultura portuguesa [...] "Alternativa Zero" surge como resposta à necessidade profunda de acabar com aquele duplo isolamento [do Portugal e do "milieu" artístico], combatendo a fórmula "salon" (e as suas falsas aparências democráticas) por uma perspectiva crítica, e uma responsabilidade totalmente assumida. [...] OS LIMITES. Posta de parte toda ideia de júri (que em geral é uma forma disfarçada do poder, inevitável se...) baseamo-nos em primeiro lugar em duas experiências anteriores, "Do Vazio à Pró-Vocação", em 1972; e "Projectos-Ideias", em 1974. A partir deste primeiro núcleo, e com alguns cortes impostos por outras condições -adiante explicaremos - sondámos tanto quanto foi possível no sentido de apurar as actividades individuais afirmadas posteriormente a 1974; quer durante a experiência do "Clube Opinião" (1975), quer pelo exercício "emprestado" de nossa actividade crítica. Foi também ponto de partida a atenção descentralizadora, sendo muito importante para isso o trabalho em comum com o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra. […] Com essa escolha - e esse é um limite fundamental e fundamentalmente anti-salonard - não se pretendeu a constituição de um grupo representativo, senão de si próprio. Portanto a nenhums valores anteriores e “externos” se atendeu (a qualidade, os melhores e mais autênticos, mais originais, mais representativos) [...] Não partimos de uma definição prévia de vanguarda (para lá da perspectiva crítica adiante definida). Também não distinguimos entre géneros e gerações; artistas e críticos; e até, em última análise artistas e anti-artistas. [...] Relativamente a certos aspectos práticos (e até orçamentais) guiamo-nos numa primeira fase por um critério simples de criatividade. Isso teve importância na elaboração das folhas do catálogo, por exemplo, que de resto será também uma obra aberta, completável pelo próprio utente. [...] Atraso tecnológico, mas também cultural… Oposição sim à idade das viagens à lua e dos computadores, mas não pelas razões contra-culturais que nos tornariam preferíveis as sem-razões da loucura, a Sociedade Festiva e o Paraíso-Já [...] Ha ainda um limite ético. [...] Nacional ou internacional, recusamo-nos a considerar qualquer experiência onde se venda gato por lebre; por exemplo “arte” ou “vanguarda” a disfarçar rasteiros interesses comerciais. [...] Contra estas mesuras e aquelas razões [a “busca imperialista da origem”] a fingir-se de históricas, o ZERO tinha que ser um dos nossos limites. E daí COMEÇAR - como diria Almada Negreiros. Isso não impede, antes obriga a uma perspectiva crítica. [...] PERSPECTIVA [...] O leitor que não esteja feito ao disfrute muito fundo e sério dos paradoxos, fica avisado: as palavras perspectiva, evolução e outras equivalentes são utilizadas aqui como figuras de retórica e não como pergaminho para quaisquer valores. Nós queremos começar e apenas vamos recortar no passado o que sirva para a definição desde zero, desta aposta. O DESEJO DEVORA OS OBJECTOS [...] Uns e outros traçam uma “evolução” que é rigorosamente a da arte moderna: uma certa desmaterialização do objecto correspondente às idades do facto estético contemporâneo; a “espiritualização” da arte, a passagem da contingência à liberdade, o primado da ética; aquilo que Duchamp chamaria “indiferença perceptiva”; e é enfim - tanto haveria a dizer a este respeito! - o que faz de toda actividade estética moderna uma espécie de analogan do pensamento contemporâneo. [...] Mas é evidente que uma vez aberto o objecto [vem de uma cita de Merleau-Ponty], a pintura passa efectiva e rigorosamente a coisa mental. E global. [...] Não há dúvida que as “artes” se vão transformando cada vez mais em objectos de consumo mais ou menos sumptuários, em emblemas heráldicos de de mal-disfarçados privilégios. Quando Bruno Munari afirma “Não nos interessa saber se o resultado das nossas investigações é artístico - queremos apenas aumentar a capacidade de comunicação entre os homens”, confirma de maneira pragmática um dos aspectos mais salientes da actividade estética dos nossos dias, a importância crescente de um trabalho sobre a comunicação; não sobre as coisas mas sobre as relações entre as coisas, não sobre os objectos mas sobre os acontecimentos. As concepções de uma arte aberta, de uma arte-participação continuam nos nossos dias as descobertas dadaístas. [...] Factor de desintegração, a obra de arte verdadeiramente moderna contém em si sua própria destruição. O quadro não consente a moldura, e a escultura não consente plinto que os separem do envolvimento real de que fazem parte. [...] A consciência da necessidade de escolha [a ética adicionada à estética] é o que precisamente viria a ser proposto mais tarde por Duchamp, a par da indiferença est´´etica ; “ready-made”, indiferença perceptiva total, angústia de existir inteiramente assumida, pertinência da liberdade. Schwitters dirá: “Tudo o que o artista mija é obra de arte”. TODOS OS CAMINHOS VÃO DAR A UM ESTADO ZERO. POR ENQUANTO… Sentido irreversível de uma transformação, corte dialéctico arrastando violências e incompreensões, negando as reformas lentas e paulatinas: mutação do estético em ético; definição da liberdade futura -utópica, como alcance de todas as acções do presente. Identificação da arte com a Vida. Fronteira e porta em vez de moldura. [...] Aqui trata-se de um processo de múltiplos aspectos, aparentemente contraditórios: seria no entanto elementar a demonstração de que, por exemplo, a “pop arte” e o hiperrealismo pertencem ao mesmo processo que o conceptualismo. A redução a zero faz-se paralelamente a esforços muito claros para criar zonas de consenso e convívio, o fim da solidão, a morte do celibatário. Certas práticas que vão desde os movimentos “happening” e “fluxus” à crítica da sociedade dos esctáculo são guerrilhas para um mesmo objectivo: a Utopia, a Festa. o mesmo se poderia dizer de movimentos tão diversos como o gestualismo ou as artes de acção; o minimalismo e a arte pobre. Todas as formas de anti-arte e contra-cultura se encontram com rigorosas experiências pós-conceptuais, porque as novas investigações estéticas sobre o tempo e o espaço (o espaço do corpo próprio, por exemplo na “body arte”, o espaço do mundo, na “land arte”) se reconstroem estruturalmente, ou quando muito como saber de signos não comprometidos. [...] Tem-se constituído assim facilmente uma crítica de direita com boa consciência e muita lucidez nos domínios da respectiva tecnocracia. Estes autores em geral retaliam os factos, excluindo o que parece afectar a inocuidade da teoria; ou iludem a respectiva opacidade. (Como acontece no excelente libvro recente de Lucy Lippard, “Six Years…” onde uma operação conscientemente política como Tucumán é incluída na tendência conceptual sem se tirar as respectivas consequências teóricas). [...] Aí [em Tucumán Arde] as duas vanguardas (a política e a estética) mais uma vez se encontravam numa só - o que certamente é a provocação de todas as vanguardas. [...] Mas tudo isso já releva de um dos aspectos polémicos que gostaríamos de atribuir a “Alternativa Zero”: Dentro de uma escolha que se caracterizará principalmente pelo rigor semântico (zero semântico), tentar uma discussão interna referente ao estado da investigação estética em Portugal, servindo-nos de modelo o definido pelas próprias obras e ideias contidas nesta manifestação, no espaço de Belém. Será isto possível, apesar do frio, de todos os “frios” que atacam e desgastam a cultura portuguesa? É o que vamos saber.
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